POLÍTICAS PÚBLICAS E AÇÕES AFIRMATIVAS
SER E NÃO SER
“O racismo que existe,
o racismo que não existe.
O sim que é não,
O não que é sim.
É assim o Brasil
Ou não?”
(Silveira Oliveira, p. 108)
O foco dessa unidade
são as questões relacionadas ao preconceito quanto aos jovens no Brasil, principalmente os mais pobres, com total
carência de políticas públicas, como trabalho, emprego e
renda, educação e saúde. As precárias condições
socioeconômicas e culturais que esses jovens vivem, alimentam o processo de exclusão, agravado ainda mais quando se soma
à questão do racismo. É necessário investir em políticas
públicas focalizadas que dêem conta de gerar condições de vida digna à
população jovem.
No Brasil, a
população jovem gira em torno de 34 milhões, correspondendo a 50% dos jovens da
América Latina e 80% dos jovens do Cone Sul. “Pode-se dizer que, embora se
esteja ainda bem longe da fixação de um sentido preciso e de aceitação geral, a
referência a políticas públicas está ligada às interferências do Estado na vida
social para a consecução de objetivos e interesses comuns” (DALLARI, Dalmo. Direito
Administrativo e Políticas Públicas. São Paulo: Saraiva, 2002).
O conteúdo deste
módulo foi produzido com base no texto de Wilson
de Souza e Vera Lopes.
As políticas universais de caráter público (governamental ou não) buscam
garantir que todas as pessoas tenham seus direitos fundamentais efetivados.
Nesse sentido, o acesso efetivo e igualitário a direitos universais deve ser a base para
as políticas públicas exigidas, com o intuito de se reduzir profundamente as
restrições sociais sofridas pelos jovens em função de características
históricas, socioeconômicas, culturais e outras que eles vivenciam.
Entretanto, ainda
vivemos à mercê de políticas públicas pouco eficazes. As que temos não olham
com a relevância devida os grupos populacionais historicamente discriminados,
socialmente excluídos e/ou em situação de vulnerabilidade social.
No Brasil, as
políticas focalizadas devem promover a redução da pobreza e o desenvolvimento
com igualdade de oportunidades.
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As políticas
focalizadas precisam reduzir a pobreza, as desigualdades socioeconômicas e
culturais e contribuir para alcançar o desenvolvimento com igualdade de
oportunidades. Devem possibilitar soluções duradouras para os problemas
enfrentados pela juventude pobre, especialmente a juventude negra. No
âmbito
governamental, três eixos de ação têm se destacado.
AÇÕES GOVERNAMENTAIS
ARTE E CULTURA
Despertar e
alimentar a auto-estima dos jovens, acolhendo e incentivando as novas
expressões socioculturais, a música, a dança, o teatro, o esporte, o lazer e várias
atividades que estimulem suas potencialidades.
TRABALHO E GERAÇÃO DE RENDA
Proporcionar
condições para superar o desemprego, cada vez maior entre jovens, principalmente
negros, não aceitando qualquer lógica perversa de exclusão. As ações
governamentais devem fundamentar-se nos indicadores que denunciam situações
inaceitáveis de exclusão da juventude em nosso país.
EDUCAÇÃO
Defender a educação
em todos os níveis e desenvolver estratégias que possibilitem e ampliem o
acesso e a utilização de novas tecnologias e instrumentos de qualificação
profissional para a população pobre.
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Um elemento
fundamental para a compreensão da realidade brasileira está relacionado às
questões raciais. Veja a seguir alguns marcos legais em torno desse assunto.
1878 –
O decreto nº 7.301 estabelecia o período noturno para que os negros estudassem.
Outras estratégias foram implementadas para impedir o acesso dessa população à
educação.
1884 –
O decreto nº 1.331 determinava que, nas escolas públicas, não seriam admitidos
escravos. A previsão de instrução para adultos negros dependia da disponibilidade
de professores.
1889 – Com
a Proclamação da República, a população negra passou a ter acesso nas salas
públicas do ensino formal, principalmente em escolas de cursos profissionalizantes.
No entanto, os cargos eram caracterizados como de baixa renda.
1969 – Foram
assinados os tratados que traziam como principal pauta o compromisso da Declaração das
Nações Unidas sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial de 20 de novembro de
1963 (Resolução 1.904 – XVII). Afirmava-se a necessidade de eliminar qualquer
tipo de discriminação que ferisse a dignidade humana.
1978 – A
Declaração da UNESCO sobre a Raça e os Preconceitos Raciais estabelecia as
diferentes formas de manifestação do racismo e suas conseqüências,
relacionando-as à perturbação da paz e da segurança internacionais.
1988 -
A Constituição Federal de 1988 define como crime
o
racismo, a discriminação e a prática de atos de preconceito racial de qualquer
natureza.
2003 – Torna-se
obrigatório o ensino da História da Cultura Afro-brasileira, resgatando as
contribuições dos africanos na formação do povo brasileiro. É instituído o dia
20 de novembro como Dia da Consciência Negra. Também é criada, pelo governo
federal, a Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial).
Hoje – Está
em andamento, no Congresso Nacional, o projeto de lei 213/2003, que trata do
Estatuto da Igualdade Racial, bem como o projeto de lei 73/99, que visa
garantir vagas para alunos de escolas públicas nas universidades federais e estaduais,
considerando o contingente de negros e indígenas em cada Estado.
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As ações afirmativas
se propõem compensar a discriminação sofrida historicamente por um grupo
social. As chamadas cotas
raciais são
um exemplo de ação afirmativa, pois aplicam um tratamento preferencial àqueles
que foram excluídos do processo educacional no passado.
Existem três formas básicas para realizar ações afirmativas.
Uso deliberado de
critérios de raça, sobretudo das mais excluídas, para fins de contratar e
promover, suscitando a consciência de uma velada discriminação.
Acompanhar as
estatísticas de contratação e promoção, estabelecendo fatores afirmativos nos
processos de decisão.
Estabelecer cotas
para representação de raças excluídas.
Atividade Prática:
Verifique junto à
sua comunidade quais políticas públicas afetam diretamente a vida dos jovens,
seja de forma positiva ou negativa. Como os jovens percebem a presença dessas
políticas?
A partir dessa
pesquisa, apresente algumas sugestões de ações que possam tornar efetivas as
políticas públicas na sua região. Quais as políticas públicas mais urgentes?
Que ações afirmativas realmente atingem a realidade dos jovens da sua
comunidade?
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