Seja bem-vindo. Hoje é

LUTA DOS JOVENS

Jovens lutam por políticas públicas


Em 2005, no Brasil, havia 50,5 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos, faixa etária definida pela Secretaria Nacional de Juventude como fase juvenil. Os jovens representam quase 1/3 do total da população brasileira e vivem, na sua absoluta maioria (84,6%), em áreas urbanas. Não só pelo expressivo contingente, mas também pela difícil realidade enfrentada por múltiplas categorias de jovens e pela pluralidade de aspectos e questões vinculadas a esse período da vida, é importante, necessário e urgente o debate sobre o assunto.
Neste sentido, interessantes ações estão sendo realizadas. Entre elas, o 21º Curso de Verão de São Paulo. Promovido pelo Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEP) e realizado na PUC/SP, nos dias 06 a 16 de janeiro de 2008, o curso abordou o tema: “Juventude: caminhos para outro mundo possível”. Participaram 560 pessoas de 19 estados brasileiros e até de outros países, sendo 58% jovens de 15 a 29 anos.
Durante o Curso de Verão aconteceu uma conferência livre. Junto com as conferências livres, as conferências municipais e estaduais são momentos de preparação para a I Conferência Nacional de Políticas Públicas para Juventude, que teve lugar em Brasília nos dias 27 a 30 de abril deste ano. Todo o processo da I Conferência foi um espaço de diálogo entre a sociedade civil e o governo, visando construir políticas públicas para os diversos segmentos juvenis.
A Conferência propôs a discussão e mobilização da sociedade a partir de 12 eixos temáticos, quais sejam: família; educação; cidades e territórios; trabalho; cultura; drogas; meio ambiente; sexualidade; diversidade; participação política; mídia; liberdades democráticas. Mais informações sobre a Conferência podem ser encontradas no site www.juventude.gov.br onde também existe sugestivo material de apoio.

O fantasma do desemprego

Os jovens são grandes vítimas do desemprego ou subemprego. Em 2004, para cada 100 adultos no mercado de trabalho, 8 estavam desempregados. No caso dos jovens, o número era três vezes maior (24,5%). O desemprego obriga os jovens a encontrarem saídas em trabalhos informais, precários e/ou autocriados. Muitos buscam uma “alternativa” de sobrevivência no mundo da droga e do crime. Isso ajuda a entender porque cerca de 70% dos detentos do sistema carcerário são jovens.
Dentre as iniciativas de enfrentamento à exclusão juvenil, existe o Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária (ProJovem), implantado em 2005 pelo Governo Federal. O ProJovem é coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência da República em parceria com o Ministério da Educação, o Ministério do Trabalho e Emprego e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Destinase atender jovens de 18 a 24 anos que terminaram a 4ª série, mas não concluíram a 8ª série do ensino fundamental e não têm vínculos formais de trabalho. Informações podem ser obtidas no site: www.projovem.gov.br


O submundo da droga

Há vários caminhos que conduzem à dependência e morte. Entre eles estão as drogas, em torno das quais se mantém um grande e perverso comércio. A juventude é o principal alvo desse mal. Segundo o Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (GREA), da Universidade de São Paulo, a curiosidade é a motivação que leva nove, em cada dez jovens, a consumir drogas pela primeira vez. Porém, as causas variam de jovem para jovem. Entre os medos enfrentados pelos segmentos juvenis de hoje está o medo de sobrar. Daí a necessidade de se encaixar em algum grupo. Mas, nem sempre esses jovens escolhem caminhos de vida e acabam ingressando em grupos de risco.
Não basta dizer que droga é ruim. É preciso encontrar maneiras eficicazes de prevenilas. Certamente, o trabalho, a educação, o bom ambiente familiar, o diálogo sincero e elucidativo acerca do assunto, a participação comunitária, a escolha de amizades saudáveis são importantes formas de combater esse problema. Drogas: é muito melhor prevenir que remediar. Para isso, é necessário decisão pessoal, mas também exige sérios investimentos em políticas públicas.

A questão da sexualidade

Na sociedade de consumo, a sexualidade passa a ser vista e tratada como importante fonte de lucro. Embarcando na onda do prazer total e, muitas vezes sem responsabilidade, inúmeros jovens sofrem e se dão mal, contraindo doenças sexualmente transmissíveis (DST).
Muitas adolescentes e jovens engravidam; depois se ressentem com a falta de acesso a um digno atendimento; são abandonadas, desprezadas e acabam carregando marcas negativas pela vida afora.
A afetividade e a sexualidade na vida juvenil são dimensões importantes e precisam ser bem integradas. Não é possível reduzir a sexualidade à relação sexual. O diálogo, a formação com base em princípios éticos e os respeitos pelo outro/a são fatores imprescindíveis para uma vida humano-afetiva responsável, serena e feliz. Nisso, a família, a escola, a igreja e os meios de comunicação têm um papel fundamental.

Educação e formação

Embora haja avanços na área da educação, a situação precisa melhorar muito. De acordo com o IPEA/2005, 68% dos adolescentes não completam o Ensino Fundamental aos 15 anos; apenas 40% dos jovens brasileiros concluem o Ensino Médio e 3,6% dos jovens entre 20 e 24 anos chegam à Universidade. Mas, não é só isso. Há os analfabetos funcionais e também os que não estudam nem trabalham. O contingente dos jovens de 15 a 29 anos que estão nessa situação chega a 4,5 milhões (PNAD/2003).
No ano 2000, quase 3 milhões de jovens entre 15 e 19 anos se declaravam analfabetos. São os jovens que vivem no campo os que menos estudam. Em 2003, 45% deles estavam fora da escola. Isso se deve em grande parte ao insuficiente investimento de recursos financeiros para o setor. O Brasil destina à escola pública em torno de 4,6% do PIB (Produto Interno Bruto). Segundo o INEP/IPEA, para cumprir as metas do Plano Nacional de Educação, seria necessário elevar o valor para 8%.


O desafio da participação

Existem inúmeros espaços sociais onde as juventudes – isto é, os diversos segmentos da juventude – estão participando e dando uma contribuição significativa e diferenciada. Bastaria lembra a presença dos jovens nas comunidades eclesiais, nos múltiplos tipos de grupos, na arte, no esporte, nos meios estudantis, nas universidades, nos movimentos sociais, etc. Porém, nem sempre há reconhecimento, aceitação, compreensão e valorização da sua capacidade e potencial.

A participação dos jovens pode e necessita crescer no compromisso efetivo com a construção de um mundo mais justo, solidário, democrático, fraterno e humano. Nesta perspectiva, a I Conferência Nacional de Políticas Públicas para Juventude – com o lema “levante sua bandeira” – é um acontecimento importante. É preciso garantir a continuidade desse processo na luta por direitos, na conscientização acerca das responsabilidades e na busca da cidadania ativa. Muitas são as bandeiras a serem erguidas e mantidas levantadas para que outro mundo necessário seja possível!

Dirceu Benincá

Doutorando em Ciências Sociais - PUC/SP
e membro da equipe nacional de CEBs

Nenhum comentário:

Postar um comentário